Autor do gol do título Carioca de 1999 sobre o Vasco, Rodrigo Mendes conversou de maneira exclusiva com o MRN para falar sobre os 25 anos da conquista (completados no último dia 19), camisa 10 do Flamengo, Tite e até sobre gols de falta. Hoje aos 48 anos e dirigente do Al Ain, dos Emirados Árabes, o ex- atacante contou detalhes do título e lembra com carinho dos seus tempos com o Manto Sagrado.
A começar logicamente pela cobrança de falta que deu o troféu do Carioca de 1999 ao Mengão. Após empate por 1 a 1 no jogo de ida, a grande final estava empatada em 0 a 0 até os 30 minutos do segundo tempo. Foi nesse momento que Rodrigo Mendes ajeitou a bola para cobrança de falta distante do gol. Após batida firme, desvio na barreira tirou qualquer chance de defesa do goleiro Carlos Germano.
“Momento inesquecível para mim e para toda a galera que curtia a minha carreira. Família, amigos, torcedores, companheiros de equipe, ídolos que sempre lembram da data com muito carinho”, lembra Rodrigo.
Após o bom desempenho emprestado ao Grêmio, ele relembra o foco em aproveitar oportunidades. Nada melhor que um gol de título sobre o Vasco no Maracanã. Rodrigo Mendes ficou com os momentos que antecederam o jogo na memória, incluindo também as provocações de Romário, que estava no Fla, com Edmundo e Eurico Miranda.
“Lembro bem de tudo. Muitos detalhes daquele carioca, das finais, dos treinos, expectativas, momento que eu vivia. Vim do Grêmio muito bem, artilheiro, e acreditava que ao voltar para o Flamengo seria importantíssimo aproveitar as chances para ir bem. Lembro dos dias antes, as cornetas, as brigas, farpas entre Edmundo e Eurico, Romário e Edmundo. Estava escrito, foi um jogão.”
Em campo, o cria do Mengão relembra do domínio rubro-negro e gol de falta “anunciado” em função dos treinamentos:
“Fomos bem demais e se houvesse VAR seria 3 a 0 e não 1 a 0. Mas aproveitei a oportunidade, fiz o gol do título. Um gol há muito tempo anunciado, pois vinha trabalhando bastante as cobranças de falta nos treinos.”
Sobre a dedicação no treino de bolas paradas, inclusive, o ex-atacante fez uma cobrança aos clubes brasileiros. Ao comentar a escassez dos gols de falta atualmente, Rodrigo Mendes fez um comparativo em relação aos clubes europeus.
“No Brasil vejo muito pouco o uso desse fundamento como estratégia nos jogos. Em outras ligas contratam treinadores especializados em bolas paradas a preço de um ótimo artilheiro. Pensam que das bolas paradas sairá mais ou tantos gols como de um grande atacante. Vivi uma época em que as bolas paradas eram decisivas, fossem frontais ou laterais. Acho que o que falta hoje é trabalho específico.”
Momento especial das finais
As trocas de farpas entre Romário e Edmundo no pré-jogo, aliás, marcaram Rodrigo. Os dois estavam em natural evidência e, perguntado sobre o que tornou aquele jogo ainda mais especial, o ex-jogador lembra como um atleta formado na base rubro-negra foi quem se destacou com gol do título.
“Para mim sempre vai ser a disputa entre Romário e Edmundo. Um coadjuvante formado na base, com sangue rubro-negro decide o campeonato. Entrar para história do clássico e dos títulos do clube está acima de tudo!”, disse o herói daquele Flamengo x Vasco.
Início do tricampeonato carioca do Flamengo sobre o Vasco e rivais apavorados
O Carioca de 1999 marcou o primeiro título estadual dos três consecutivos sobre o Vasco, série que terminou com o gol de Pet em 2001. Além do gol decisivo de 25 anos atrás, Rodrigo Mendes participou do título de 2000 e comenta como sequência aumentou rivalidade Flamengo x Vasco.
“O que antes era muito forte no Fla X Flu cedeu espaço para o Clássico dos Milhões. O Vasco vinha de grandes conquistas, e o Flamengo como o Maior do Rio sempre. O tricampeonato foi o marco dessa soberania em cima do rival e, obviamente, no futebol carioca”, comentou, antes de fala sobre o ‘pavor’ dos vascaínos ao encarar o Mengão nas finais:
“Criou-se um tabu e acredito que quando dava final contra o Flamengo certamente o sentimento era de pavor. Mesmo em 2000, quando o Romário estava do lado de lá e deu a vida para ganhar, mas não foi o suficiente.”
Gol na final da Mercosul
A jovem e talentosa geração do Flamengo de 1999 terminou o ano levantando também o troféu da Mercosul. Rodrigo Mendes balançou novamente as redes. O atacante saiu do banco no segundo tempo e precisou de poucos minutos para marcar e virar placar contra o Palmeiras para 2 a 1 naquele momento.
O Mengão empatou em 3 a 3 no fim e foi campeão no agregado após ter vencido por 4 a 3 no Rio. Rodrigo coloca esse gol ao lado do que fez no Carioca. Ambos foram fundamentais para títulos de um time jovem e que não era favorito contra nenhum dos dois rivais.
“Nos meus praticamente dez anos de Flamengo posso dizer que os dois foram os mais importantes sem dúvidas. Eles foram responsáveis diretamente por títulos contra rivais muito qualificados. Entrávamos sempre como os azarões. Uma equipe bem jovem, mas que se provou muito forte quando colocada à prova.”
Rodrigo revela que parte daquela geração do Flamengo que venceu Vasco e Palmeiras, aliás, mantém o contato até os dias de hoje.
“Quando temos oportunidade, sim. Juan, Athirson, Leandro Machado, Leandro Ávila… são os que mais estão próximos mesmo morando em outros estados. Sempre trocamos ideias.”
Em três passagens entre 1993 e 2000, Rodrigo Mendes disputou 200 jogos pelo Flamengo. O ex-atacante marcou 29 gols e conquistou três títulos pelo clube: Carioca (1999 e 2000) e Mercosul (1999). No próximo dia 29, completam-se 31 anos da sua estreia com o Manto Sagrado.
Peso da camisa 10 do Flamengo
Rodrigo Mendes foi um dos últimos a vestir a camisa 10 do Flamengo e fazer um gol de título. A camisa passou por muitos nomes neste século. Mais recentemente, Diego Ribas a vestiu entre 2018 e 2022 e depois ficou pouco mais de um ano com Gabigol. Após atacante ser punido e perder o número, a camisa eternizada por Zico está vaga.
O ex-atleta classifica escolha pelo atacante como um “erro brutal” do clube e acredita que Arrascaeta é o único com capacidade para utilizá-la.
“Camisa 10 no Flamengo é um assunto sério, camisa do Zico, ídolo máximo não só do Flamengo, mas de várias gerações no mundo inteiro. Para mim, hoje no elenco, Arrascaeta seria o único nome para usar. Erro brutal do clube e do marketing colocar no Gabigol. O clube é maior que tudo, os atletas passam, diretoria passa e a história do clube permanece.”
Outras respostas de Rodrigo Mendes
Relação com Tite no Grêmio e trabalho no Flamengo:
“Ser treinador de um clube com a história, estrutura e política do Flamengo não é para qualquer um.
Alguém com bagagem e histórico vitorioso como Tite sempre será um nome forte para assumir essa posição. Acho que o clube errou ao dispensar o Dorival na época, mas acertou ao trazer o Tite. Tenho muita admiração pela postura, trabalho, história e amizade que formamos nos tempos de Grêmio.”
Tragédia no Rio Grande do Sul:
“Eu residi em Porto Alegre nos últimos 12 anos, mas desde janeiro estou trabalhando nos Emirados Árabes, no Al Ain. Assumi essa temporada como diretor esportivo. Somos os atuais campeões da Ásia, classificados para os Mundiais de Clubes em dezembro e para o Novo Mundial nos EUA. Sobre os eventos em Porto Alegre: uma catástrofe sem precedentes, mas minha família está bem. O estado terá grande dificuldade em recuperar tudo, mas a força do povo gaúcho é grande.”
Fonte: Mundo Rubronegro