Reparação histórica ou a busca pela equidade

 “La colère ça peut donner de l’énergie” 
(A ira também pode promover energia)
Leslie Kaplan

Na semana passada, uma triste notícia sobre o fechamento das categorias de base do futebol feminino do Flamengo, gerou perplexidade e provocou muita revolta. Afinal, como um clube tão rico, e sem fins lucrativos, toma tal decisão e de forma tão abrupta?

Até porque sabemos da verdadeira transformação pela qual o futebol feminino do CRF passou nos últimos anos. Eu fui inúmeras vezes ao Cefan em 2019, conversei com dirigentes da Marinha e do Flamengo, sentei com as jogadoras.

MARION KAPLAN: Eles estão esperando o quê?

E vi com meus olhos todas as mudanças, todos os aprimoramentos pela qual a modalidade passou. Uma modalidade que era apenas tratada como mera obrigação,  e passou a ser enxergada como importante e digna de investimentos.

Então…

O que aconteceu?

Lamento que as reportagens sobre o assunto não tenham ido mais a fundo e procurado se inteirar. Pois saberiam que não há sub 13, sub 15 etc no Flamengo. O que existe são projetos sociais para meninas menores.

E somente com as informações corretas, podemos refletir, elaborar e cobrar. Informações pela metade apenas dificultam.

O fato é que teve reestruturação sim, meninas foram dispensadas sim, e apenas o time profissional e o sub 20, obrigatórios, permanecem intactos. Mas esses dependem intrinsecamente das garotas da base. 

Então, a gente faz como? Daqui a dois, três anos, faremos o quê? Como abasteceremos nossos dois times femininos? Monitorando garotas de outros times? E o lema “craque o Flamengo faz em casa”, só serve para os garotos?

Ou seja, tudo que foi conquistado e investido nos últimos anos, está sendo colocado em xeque e compromete seriamente o futuro do futebol feminino do CRF.

Pior, compromete a marca Flamengo. Pois, por mais que o meio do Futebol permaneça  estruturalmente machista, nossos patrocinadores, nossos parceiros, estão totalmente alinhados com as metas de inclusão e diversidade, amplamente implementadas mundo afora. E eles estão atentos e cobram…

É de suma importância que mostremos que estamos profundamente engajados em estruturar o Futebol Feminino, desde a base até o profissional.

MARION KAPLAN: Sobre aquela noite…

Não apenas por ser imposição da CBF ou Conmebol. Mas porque entendemos que teve uma violência, uma injustiça histórica com as mulheres, que foram proibidas de jogar durante décadas. Porque entendemos que precisamos reparar essa violência histórica, e dar todo o suporte e o estímulo para que as meninas possam jogar bola desde pequenas como os meninos.

Porque entendemos que a igualdade é insuficiente enquanto não tiver equidade.

Porque entendemos que o Flamengo é tão grande, tão inclusivo, que ele não somente precisa ter projetos sociais e várias categorias de base no futebol feminino, como precisa encorajar as meninas do país todo a jogarem, participar de campanhas, cobrar maiores premiações e investimentos da CBF.

Porque entendemos que não é hora de reduzir, mas de ampliar. É hora do Flamengo assumir seu protagonismo e abraçar de vez a causa. Com unhas e dentes. Pois, “ser Flamengo é ir em frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram” (Artur da Távola).

Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72

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Fonte: Mundo Rubronegro

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