De maneira indireta, o Flamengo acabou sendo poupado de um constrangimento neste domingo, no aniversário de 60 anos do golpe militar de 1964, por conta de uma ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu governo. O presidente determinou a seus ministros e auxiliares que não fizessem atos oficiais em referência à data para evitar atritos com as Forças Armadas.
Desta forma, acabaram cancelados os planos para que fosse realizado um ato em homenagem a Stuart Angel, remador do Flamengo morto em 1971 pela ditadura militar, que exporia uma página vergonhosa da história recente do Flamengo.
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Em 2010, foi inaugurada na Gávea uma placa em homenagem a Stuart como parte de um programa de preservação da memória do Ministério dos Direitos Humanos no fim do segundo governo Lula. Em 2016, a placa foi retirada para a realização de obras para adequação das instalações ao Comitê Olímpico dos Estados Unidos, que usou a Gávea para treinamentos durante os Jogos Olímpicos do Rio.
Em 2019, um grupo de sócios e torcedores do Flamengo fez um ato com a irmã de Stuart, Hildegard Angel, e iniciou a coleta de fundos para a recolocação da placa. O Flamengo, já sob a gestão de Rodolfo Landim, se negou a refazer a homenagem sob a alegação de que “não se posiciona sobre assuntos políticos”. No mesmo ano, porém, o Flamengo concedeu título de sócio honorário ao então vice-presidente Hamilton Mourão, que defende a ditadura militar e ontem publicou mensagem comemorando o aniversário do golpe.
Já no ano passado, com a volta de Lula ao poder, o governo e o Ministério Público cobraram o Flamengo sobre o paradeiro da placa. A resposta do Flamengo foi que não sabe onde a placa foi parar. Hildegard acusou o clube de jogar a placa no lixo. A homenagem é o único de 40 monumentos inaugurados como parte da série do Ministério dos Direitos Humanos que não está mais no local de origem.
Diante deste cenário, o assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, se organizou com Hildegard e torcedores do Flamengo para inaugurar uma nova homenagem a Stuart no Estádio de Remo da Lagoa, ao lado da sede do Flamengo e sem participação do clube.
O evento aconteceria ontem, mas, diante da determinação de Lula, acabou cancelado. O inquérito no Ministério Público pelo desaparecimento da placa original, entretanto, segue aberto.
Bicampeão carioca de remo pelo Flamengo em 1964 e 1965, Stuart era militante da guerrilha MR-8 e chegou a se esconder na garagem de remo do Flamengo em 1971, antes de ser sequestrado, torturado e morto pela ditadura. O corpo do atleta rubro-negro nunca foi encontrado.
Fonte: Mundo Rubronegro