Nada é tão ruim que o Flamengo de Tite não possa piorar

Uma coisa que acontece às vezes na vida é a pessoa se encontrar numa situação sem ter plena consciência ou compreensão de como foi parar lá. Que curva errada você pegou entre o Rio e Paraty pra ter chegado, com seis horas de atraso, em Cachoeiras de Macacu? Como vocês dois foram de aliança comprada pra término traumático? Quando aquele hobby inocente do site de apostas virou um vício e por que você está agora fraudando a aposentadoria da sua avó?

Ou, mais complicado ainda: como o time de maior investimento do continente conseguiu se colocar em risco de sair da Libertadores da América já na fase de grupos?

JOÃO LUIS JR: Tão ruim que mesmo melhorando segue bem longe de estar bom

Um processo que, como todo grande fracasso, pode sim ser dividido em diversos outros pequenos fracassos, em várias mini-derrotas, em várias decisões equivocadas que pavimentaram o caminho pra que o Flamengo, com 4 jogos disputados na Libertadores da América, esteja dois pontos atrás do segundo colocado de seu grupo, correndo até mesmo o risco de terminar a rodada na última colocação.

Primeiro temos a soberba de achar que o nosso desempenho no Campeonato Carioca, um torneio mais próximo da gincana de colégio e da quermesse de igreja que do futebol profissional de alto nível, serviria de referência para alguma coisa. Sobramos diante da concorrência? Ótimo, se a concorrência durante o ano fosse só Bangu e Audax. Só sofremos um gol em 11 partidas? Que pena que não vamos mais enfrentar nenhum time tão ruim quanto esses que não fizeram gol na gente.

Depois o absurdo de não saber aproveitar as vantagens que a vida dá, como no homem a mais durante a partida contra o Milionários, onde pegamos o caminho mais difícil pra complicar o fácil e jogamos fora dois pontos que já tornariam muito diferente a nossa situação.

Isso sem contar a mistura de prioridades equivocadas e mal uso de conhecimento científico de Tite e da nossa diretoria, que priorizaram o Carioca diante da Libertadores e pouparam jogadores pensando numa futura maratona de jogos que pode nunca chegar, caso sejamos eliminados precocemente de todos os torneios.

E por fim vem a pura e evidente incompetência, como ficou claro na derrota desta terça-feira, diante do Palestino. Mais uma vez tivemos um Flamengo desorganizado, com dificuldade na saída de bola, penando na criação e com distâncias quilométricas entre seus jogadores. Wesley se movia como a personagem Bella Baxter no começo do filme “Pobres Criaturas”, Allan mais uma vez parecia estar atuando sob efeito de medicação pesada e em diversas situações óbvias de chute a equipe acabava passando a bola, como se alguém tivesse configurado errado o controle num jogo de FIFA.

O castigo? Uma derrota lamentável, diante de uma equipe que no papel era muito tecnicamente inferior, mas que dentro de campo parecia mais organizada e até mesmo psicologicamente estável. Uma situação precária na competição mais importante do ano. Um atestado do quanto Tite não parece conseguir colocar esse time para jogar.

E agora, obviamente virá o caos. A pressão que já era grande vai se tornar maior ainda, o risco de queda de Adenor se tornará real, o nome de Jorge Jesus voltará a ser ventilado, com tochas e ancinhos na mão iremos procurar em todos os lugares os culpados por mais essa vergonha. E será que Tite tem capacidade pra contornar isso? Será que ainda existe algo daquele alarme falso que foi o Flamengo do começo do ano? Porque pelo que vimos nesta terça, é até perigoso imaginar os outros lugares terríveis onde ainda podemos parar por causa desse time. 

João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Medium.

Fonte: Mundo Rubronegro

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