Muito mais do que campeãs olímpicas e muito além delas

Somente quem é mulher, preta, nascida em uma família sem ou com poucos recursos, em um país como o Brasil, de tanta desigualdade social, racial e de gênero, pode falar sobre.

Uma história, uma existência , uma luta que pertence aquelas que a vivenciaram.

Aos outros restam apenas ouvir, tentar entender e apreender essa realidade tão dissemelhante.

Contudo, podemos relatar as consequências dos resultados das Olimpíadas de Paris. As mulheres trouxeram 12 das 20 medalhas, sendo que as 3 de ouro foram conquistadas por elas.

COLUNA DA MARION: Sonhos e desejos

Mulheres no pódio e no alto do pódio, tem um impacto profundo na sociedade. Não se trata apenas de exaltar suas conquistas esportivas. Significa também, no imaginário das meninas e da população feminina, que elas podem conquistar, podem ser protagonistas.

Pois, desconstruir valores de uma sociedade patriarcal e misógina, passa obrigatoriamente por modelos nas quais mulheres se espelham. Contemplar mulheres que conquistaram, que são reverenciadas, impulsiona todas. E a sociedade como um todo evolui.

Muito tem q ser aprimorado. Questões como a maternidade, abusos e assédios no ambiente esportivo, precisam urgentemente de regulamentarão. Sem esquecer da necessidade de mudar as vestimentas, e refletir sobre a sexualização que as atletas sofrem por meio dos uniformes esportivos. 

Diversos temas que carecem de mudanças urgentes e que são  intrinsecamente ligados a concepção da mulher objeto e submissa ao olhar, ao desejo e às supostas necessidades do homem.

Não faz o menor sentido falar em liberdade, igualdade e inclusão quando nossa sociedade é regida por demonstração de força, de poder e ânsia de possuir.

Precisamos mudar.

E a mudança advém com debates, divulgação, conscientização e modelos de superação.

Que venham mais Rebecas, Bias, Dudas, Anas, Tatis, Julias, Jades, Rayssas… Nossas medalhistas e inspirações dos pódios que povoam a imaginação de nossas meninas.

Mas não podemos esquecer de todas as outras que participaram das olimpíadas.

E não podemos esquecer de todas as outras que lutaram, que lutam no dia a dia, em casa, no trabalho, mães e filhas, mulheres, heroínas, batalhadoras, desbravando obstáculos todos os dias em uma sociedade tão hostil e opressora.

Existe algo mais revolucionário e corajoso que isso?

Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72

Fonte: Mundo Rubronegro

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