Marcelo Dunlop: O filme esquecido do Flamengo

Uma comédia aplaudida pela crítica e pelos grandes Glauber Rocha, Antonio Carlos da Fontoura e Antônio Calmon, com um dos nossos maiores atores vestindo o Manto Sagrado e de porre total após uma derrota do Flamengo?

Você não lembra mais, claro. Mas sim, teve isso. Em 1968, Paulo José e Flávio Migliaccio deram uma aula de interpretação e versatilidade em “Como vai, vai bem?”, produzido pelo craque espanhol Alberto Salvá. O filme de 74 minutos é na realidade uma colagem de oito curtas, num humor direto e popular com tintas de comédias italianas.

O primeiro episódio, que abre o filme, é assinado pela diretora Valquíria Salvá. Ele traz dois torcedores totalmente de porre, sedentos por vingança após verem o time rubro-negro perder. O mais fanático, Astolfo, vivido por Paulo José, convence o amigo, até sensato, que alguém teria de pagar por aquilo. Os dois assim começam a arquitetar surras homéricas em suas esposas.

O roteiro, reconhecidamente frágil e desmiolado, talvez tenha feito o curta “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo” cair no esquecimento. Hoje, contudo, trata-se de um senhor documento histórico. Além da atuação digna de Paulo e Flávio, o filme é uma denúncia contundente dos males do álcool, do arraigado machismo brasileiro e, não por último, da irracionalidade que pode advir do fanatismo.

Como todos hoje percebemos nos noticiários e vídeos que exibem a pancadaria desclassificante de um diretor de futebol e um torcedor, na frente de uma loja de joias.

São cenas que merecem destaque numa sala escura no nosso belo museu. As cenas de Paulo José e Migliaccio, bem entendido, não as do Marcos Braz. Alô, equipe do Museu do Flamengo, fica a dica.

Marcelo Dunlop, prefeito informal do Grande Leblon e Gávea, gosta de samba, cerveja, crônicas e futebol. Já seguiu o Rubro-Negro por meio mundo.

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Fonte: Mundo Rubronegro

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