Cria do Flamengo, Hugo Souza passou por altos e baixos durante a trajetória como jogador de futebol, e precisou investir em profissionais especializados em saúde mental para aprender a lidar com as adversidades e evoluir na carreira. O jovem, inclusive, revela ter Vini Jr como inspiração e referência no tema.
Em participação ao Charla Podcast, Hugo relembrou os momentos de oscilações que viveu na carreira, e contou como o fato de não ter o suporte necessário de profissionais especializados em saúde mental interferiu diretamente em sua performance.
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“Acho que a parte mental do goleiro é desenvolvida desde moleque, essa é a verdade. É um caso a parte, é um futebol a parte, um treinamento específico, com preparador próprio – às vezes até dois. Mas, a parte mental não é só do goleiro. A parte mental é crucial de todo atleta. Eu vejo alguns clubes investindo nessa parte, outros não – que eu acho que deveriam – e vejo que foi uma coisa que me faltou no meu momento de oscilação. Quando eu foquei nela (a parte mental), eu olho para trás e vejo que precisei passar por isso para olhar para frente. Hoje, eu faço trabalhos que nunca fiz antes”, revelou o goleiro.
A passagem de Hugo pelo Flamengo, o investimento em saúde mental e o espelho em Vini Jr
Criado na base do Flamengo, Hugo Souza foi promovido ao time profissional em 2020, para suprir as ausências causadas pelo surto de Covid-19 que atingiu o elenco. Durante a passagem pelo Rubro-Negro, enfrentou muita turbulência. Chegou a ser quarto goleiro, foi promovido a titular, depois perdeu posição, e se viu alvo de um turbilhão de críticas.
Hugo Souza precisou deixar o clube em 2023 para buscar novos ares, e teve de procurar ajuda psicológica para superar as adversidades. Segundo o arqueiro, na época, “as proporções (das críticas) foram um pouco maiores do que o esperado”. Hoje em dia, ciente da importância de zelar pela saúde mental, Hugo tem uma equipe especializada em gestão e mentoria.
“Eu tenho um staff por fora, e tem uma pessoa que é o Victor Aguiar. Ele é meu gestor e mentoria. Ele cuida da minha vida toda. E meus amigos são meu staff, isso eu nunca tive. No momento de deslize, eu nunca tive. E quando eu vi que precisava, eu tive que investir. É uma área que a gente precisa, não tem como. Não é porque eu sou goleiro que eu vou falhar, tomar gol, que só eu preciso. Não, todo mundo precisa, porque a pancada é forte. Quem joga bola, ainda mais em clube grande, a gente sabe que a pancada vai vir forte. Até porque quando acerta, vai dar alegria para milhões de pessoas, e quando erra, está mexendo com o coração de milhões. Eu precisei passar para entender o quão importante era o trabalho. E o trabalho por fora não é só mental”, disse, antes de prosseguir:
“Eu não faço mais nada a não ser fazer o que me mandam. Victor me liga o dia inteiro. “Tem isso, isso e isso para fazer”, e eu: “Pronto”. Na última temporada eu percebi isso melhor, quando eu fiquei sozinho, fora do país, foi quando eu busquei ajuda, a melhor coisa que eu fiz na vida. O Victor é quem encabeça essa estrutura toda. O trabalho dele é um trabalho que as pessoas só entendem vivendo. Eu acordo com ele me ligando: “Você tem treino tal hora”. Ai eu aviso: “Tá bom, estou acordando, ou já acordei”, e é esse cara chato que faz a bola girar. E depois de algumas coisas que passei, precisei fazer esse tipo de trabalho, porque independente do que aconteça, eu preciso estar pronto, sendo bom ou ruim”, pontuou.
Ao revelar a importância do trabalho de seu staff, Hugo Souza contou que presenciou um dia com Vini Jr e explicou como funciona a rotina do também Cria do Flamengo. Vinícius foi apontado pelo goleiro como referência no tema, considerando todo o contexto de vida do jogador, que sempre precisou lidar com duras críticas, enfrenta casos gravíssimos de racismo, defende a causa com unhas e dentes, mas vive o auge da performance e é um dos favoritos ao título de melhor jogador do mundo.
“Esse staff que a gente fala é para blindar o cara. Jogador não tem que estar preocupado com nada, só jogar bola, porque é quando ele consegue alcançar o maior nível dele. Vou dar um exemplo claro: Vini Jr. Eu fui na casa do Vini lá em Madrid, e coisa básica. Ele está sentado para almoçar, não faz nada. Coloca um prato, tira um prato. E tem que ser assim. É só você ver como o Vinícius performa hoje. No horário correto, da forma correta, do jeito correto, tudo cronometrado. Tem que ser dessa forma”, contou, antes de destacar:
“Vinicius Jr é o melhor jogador do mundo. Só. E é um cara que tomou pancada de tudo que é lado. “Não vai vingar, não vai jogar no Real Madrid”. Isso aí, então (o racismo), é bizarro. O Vinícius se blindou de uma forma, que mesmo lutando contra uma coisa tão forte que é o racismo, ele consegue ser o melhor jogador do mundo. Ele abraçou de uma forma tão grande, que consegue ter um potencial tão grande em relação à essa blindagem, que ele abraçou uma causa que requer muita atenção, ele consegue ser o símbolo de uma causa tão importante e, mesmo assim, ser o melhor jogador do mundo dentro de campo. Isso é mental”, afirmou Hugo Souza.
A saúde mental é um assunto complexo e que se potencializa quando o indivíduo precisa lidar com situações que o tiram da “zona de conforto”. Um jogador profissional de um esporte que mexe com paixão, como o futebol, está muito mais suscetível a críticas, e justamente por isso, o cuidado com a parte emocional dos atletas deveria ser tido como prioridade. Alguns clubes têm profissionais especializados em saúde mental, outros não.
Saúde mental no Flamengo
O Flamengo, por exemplo, tem psicólogos à disposição de todas as categorias de base, mas nenhum especialista trabalha com o elenco principal.
Em relação ao time principal, o Flamengo entende que nem sempre todos os jogadores vão estar abertos para confiar em um profissional que convive com os companheiros e comissão técnica. A justificativa em questão foi dada pelo Dr. Márcio Tannure, Gerente de Saúde e Alto Rendimento do clube. Neste caso, quando necessário recorrer a um psicólogo, o Fla lida de forma pontual, muitas vezes com especialistas que já acompanham os jogadores por fora.
Ainda em relação ao Flamengo, alguns atletas já se manifestaram publicamente a favor da presença de psicólogos, e Arrascaeta foi um deles. No ano passado, através do Instagram, o camisa 14 compartilhou a seguinte publicação: “A saúde mental deveria ser prioridade em todos os clubes do mundo”.
Cebolinha foi outro jogador que já depôs publicamente sobre o assunto, falou sobre as dificuldades enfrentadas na carreira, o período inicial de adaptação no Flamengo e as críticas recebidas. O camisa 11 revelou ter procurado por ajuda e conseguiu dar a volta por cima. Hoje, o atacante é titular absoluto da equipe e um dos atletas que melhor performa no elenco rubro-negro.
Fonte: Mundo Rubronegro