Em 1º de março de 1924 nascia, em Belém do Pará, William Kepler Santa Rosa. Mais conhecido como Esquerdinha, o ex-atleta marcou história no Flamengo pela sua liderança e por participar da equipe tricampeã carioca em 1953, 1954 e 1955.

Esquerdinha completaria 100 anos na data de hoje. Por esse motivo, a fim de celebrar sua memória, a coluna contará a história de um importante atleta do Clube de Regatas do Flamengo.

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A chegada ao Rubro-Negro

Esquerdinha chegou ao Rio de Janeiro, então capital federal, com apenas 2 anos de idade. Vindo acompanhado da mãe após o falecimento do pai, começou a jogar futebol desde bem jovem. Com apenas 1,61 de altura e 58 quilos, primeiramente recebia o nome de “Pequenino”. O apelido que lhe consagrou veio após ser deslocado para a ponta esquerda numa pelada, em referência à potência de seu chute com a perna esquerda.

No começo da década de 1940 apareceu nos quadros juvenis do Madureira, clube onde enfim estreou profissionalmente em 1946. Foi no Tricolor Suburbano que Esquerdinha chamou a atenção do Flamengo pela primeira vez. Primeiramente, Flamengo e Madureira negociaram longamente a transferência do ponta, junto com os atletas Durval e Hermínio. Depois de muito diálogo entre as partes, ficou decidido enfim a transferência de Durval por 80 mil cruzeiros e o empréstimo de Hermínio e Esquerdinha.

A venda foi vista com bom olhos dentro do Madureira, em matéria publicada pelo Jornal dos Sports. A ressalva ficou com o ex-diretor de futebol do clube, Affonso Merola Ruffo. Consultado pelo jornal, o dirigente disse estar de acordo com as transferências, exceto por Esquerdinha, dado sua presença no clube desde as categorias de base.

Dessa maneira Esquerdinha, com 24 anos, e os novos reforços embarcaram com o Rubro-Negro para uma série de jogos no Chile em janeiro de 1948.

Estreia no Flamengo e ida ao Olaria

No país andino, Esquerdinha participou dos 3 jogos do Flamengo sem deixar gols. A campanha do time, entretanto, foi modesta: 1 vitória, 1 empate e 1 derrota. No retorno ao Brasil, o Rubro-Negro deixou claro a vontade de continuar contando com o ponta pelo resto do ano, porém isso acabou não se consolidando.

Um desentendimento com o então técnico rubro-negro Juca da Praia fez com que Esquerdinha e Hermínio não ficassem no Flamengo. O destino por fim foi o Olaria, que pagou 110 mil cruzeiros pelo passe do ponta. Esquerdinha estreou pelo clube da rua Bariri contra o Combinado da Água Verde, no Paraná. Os dois gols marcados pelo jogador gerou euforia pelos torcedores.

Logo após a boa temporada pelo Olaria, Esquerdinha retornou ao Flamengo no início de 1949 junto com o meio campista Valter. O Rubro-Negro não apenas pagou 200 mil cruzeiros pelos dois como também acordou dois amistosos com o Olaria. Dessa forma, Esquerdinha iniciou a passagem que marcaria uma série de títulos pelo Rubro-Negro.

Os anos antes do tri

Antes de se consagrar tricampeão carioca pelo Flamengo, Esquerdinha viveu com o clube um período mais modesto. O Rubro-Negro vivia uma seca de títulos cariocas desde 1944 e que só seria quebrada em 1953. Esquerdinha conseguiu com o Flamengo, nesse meio tempo, o título do Torneio Início nas edições de 1951 e 1952.

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Contudo, nos torneios mais relevantes, Esquerdinha e o Flamengo ficaram em terceiro no Carioca de 1949, sétimo no de 1950, quarto no de 1951 e o vice campeonato na classificação final de 1952. Além disso, o clube não fazia campanhas satisfatórias nas edições do Torneio Rio-São Paulo

Ademais, outro destaque relevante no período foi a excursão do clube pela Suécia em maio de 1951. O Flamengo disputou e venceu as 10 partidas amistosas realizadas contra alguns clubes suecos, a seleção dinamarquesa, o Racing Paris e o Belenenses de Portugal. Esquerdinha fez 7 gols na excursão e foi homenageado.

A liderança que Esquerdinha exercia entre seus companheiros era fundamental. Por causa de sua facilidade com o inglês, era quem trabalhava como intérprete com os árbitros nas excursões internacionais da equipe. Com a chegada do técnico paraguaio Fleitas Solich em 1953, o papel de liderança ficou ainda mais destacado quando lhe foi destinado a faixa de capitão da equipe.

Um tricampeão que enfrentou problemas

O Campeonato Carioca de 1953 foi disputado por 12 equipes através de pontos corridos em dois turnos. Ao final, os 6 melhores times se enfrentavam em turno único, também em pontos corridos. O Flamengo de Solich, que contava, além de Esquerdinha, com jogadores como Jordan, Índio, Benitez, Rubens e um jovem Evaristo de Macedo, garantiu em princípio a liderança da competição.

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Logo após, na segunda etapa, novamente garantiu a liderança e conseguiu se consagrar campeão com uma rodada de antecedência. A partida que garantiu o título foi uma goleada de 4×1 contra o Vasco. Esquerdinha foi o autor de um dos gols no certame. Ao todo, o ponta fez 10 gols do torneio e participou ativamente durante todo o título,

O campeonato de 1954, no entanto, já não contou com grande participação de Esquerdinha. Disputado nos mesmos moldes do ano anterior, o Flamengo teve o ponta esquerda em apenas dos jogos. De acordo com o Jornal dos Sports, o motivo da ausência teria sido uma cirurgia a qual Esquerdinha foi submetido. Ele esteve presente na vitória por 3×0 sobre o Madureira e a derrota por 2×0 contra o Bangu. Não marcou gols.

Já veterano e sem ritmo de jogo, Esquerdinha participou ativamente nos amistosos e torneios no primeiro semestre de 1955, porém disputou apenas uma partida no Campeonato Carioca. Na vitória por 5×2 contra o Canto do Rio, Esquerdinha deixou dois tentos registrados. Foram os últimos pelo Flamengo.

Desentendimento com Solich e fim da carreira

Esquerdinha teve problemas para disputar uma vaga no time titular devido seu tempo de inatividade. Com a ascensão de um jovem e promissor Zagallo na ponta esquerda, ficou ainda mais difícil se manter na equipe.

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O fim derradeiro de sua longa passagem se deu de forma pouco amistosa, iniciando-se após brigar com Solich no vestiário no final de 1955. Na ocasião, Esquerdinha foi escalado como titular para enfrentar o Racing da Argentina, em amistoso no Maracanã. Porém, foi substituído no início do jogo pelo técnico rubro-negro, causando a revolta do jogador.

Decidido a não jogar mais no Flamengo enquanto Solich fosse o técnico, Esquerdinha foi autorizado pelo clube a passar um tempo em Nova Friburgo, atuando como técnico do extinto Esperança Futebol Clube no início de 1956. O Jornal dos Sports noticiou um possível retorno do atleta ao Madureira, porém que nunca se efetivou.

De maneira concreta, o Jornal dos Sports noticiou em abril de 1956 a ida por empréstimo de Esquerdinha ao Bahia. No tricolor baiano, Esquerdinha atuaria tanto como jogador quanto como técnico. Entende-se que sua carreira terminou ali. Esquerdinha também teve uma passagem como técnico na Sociedade Esportiva Machadense, de Minas Gerais.

Esquerdinha faleceu aos 90 anos, no dia 5 de setembro de 2014. No dia de seu 90º aniversário, foi homenageado no Maracanã junto de outros jogadores aniversariantes de março antes da partida contra o Nova Iguaçu pelo Carioca. Junto de Zico, Fernandinho, Índio, Julio Cesar, Gaúcho e Jayme de Almeida, recebeu o parabéns da torcida.

O legado de Esquerdinha

William Kepler Santa Rosa é atualmente o 16º maior artilheiro da história do Flamengo. O ponta esquerda fez 110 gols em 277 partidas. O texto é uma breve homenagem para o atleta que representou bravamente o Clube de Regatas do Flamengo.

Marcos Paulo Neves é professor e historiador formado pela UNIRIO. Apaixonado por futebol e pelo Clube de Regatas do Flamengo, procura falar sobre futebol, política e história de maneira clara e não revisionista.

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Fonte: Mundo Rubronegro

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