Conselheira do Flamengo denuncia falta de democracia no clube

EMANUEL MARTINS: Na última segunda-feira (08), o Conselho Deliberativo do Flamengo aprovou os direitos de transmissão do clube com a ‘TV Globo’, entre os anos de 2025 e 2029. Os times da Libra, haviam chegado a um acordo com a emissora no mês passado e o acordo prevê um pagamento anual de cerca de R$ 1,3 bilhão.

Você precisa saber:

  • Conselheira do Flamengo denuncia falta de democracia no clube
  • A conselheira Marion Kaplan se mostrou insatisfeita com as negociações que resultaram no acordo do Mais Querido com a Globo
  • O contrato foi aprovado com 218 votos a favor e 149 contrários, além de sete abstenções dentro do Conselho do clube

Conselheira do Flamengo denuncia falta de democracia no clube

Apesar do acordo, a decisão foi apertada, o contrato foi aprovado com 218 votos a favor e 149 contrários, além de sete abstenções dentro do Conselho do clube.

Após o resultado, a conselheira Marion Kaplan, publicou uma carta acusando o Flamengo de falta de democracia, confira a carta.

“Para o Presidente do Conselho Deliberativo, demais Presidentes de Poder, membros do Conselho Diretor, conselheiras e conselheiros:

Um Conselho nada soberano em um Flamengo menos democrático. Nunca foi, nunca é, nunca será apenas futebol.

A grandeza do Flamengo, na sua história e na sua torcida, é permeada pelas suas lutas no campo e fora dele.

E a diversidade de suas torcedoras e de seus torcedores, de todas as cores, regiões, crenças e classes sociais, exemplifica o caráter democrático do Clube como nenhum outro.

Quando o Tite entrega sua medalha para o técnico adversário, quando ele divide a foto e a taça com o time rival, ele produz um gesto que extrapola o campo.

Ele salienta a importância do outro. Ele revela que não há partida sem o outro, não há disputa de bola sem contendor, não há conquista sem oponente. Fazemos parte de um todo.

A diversidade e as adversidades, criam um conjunto belo, sofisticado e democrático. No futebol, na política e na vida.

E quando olhamos para o outro como inimigo, e não enxergamos ele como parte de uma totalidade, danificamos o princípio de universalidade. E empobrecemos…

O belíssimo gesto do Tite, tão exaltado no domingo da conquista do 38o título carioca, deveria ter sido um exemplo para a reunião de segunda-feira.

Mas permaneceu apenas no campo. É verdade que essa reunião somente termina no dia 8 de Abril. Mas seus bastidores começam quando o Flamengo entra na Libra em 2022.

Ora, se o Conselho é soberano e se o Artigo 88 XXI estipula que matérias omissas no Estatuto, tem que passar por ele, porque não fomos consultados/as? Estamos no escuro desde então. Não sabemos o que é a Libra de fato, não tivemos acesso ao seu Estatuto nem ao seu modelo de governança.

Votamos às pressas um contrato, sem saber o funcionamento da Libra, sem ter acesso previamente ao parecer da comissão jurídica, com suas ressalvas, nem às razões dos votos contrários de dois membros do conselho fiscal ou da mudança do parecer da comissão de finanças. Ficamos 3 horas ouvindo defesas de um contrato importantíssimo e polêmico, que vai perdurar por 5 anos.

Mas só tivemos dois dias para nos debruçarmos sobre ele, faltando parecer, e explicação detalhada da Libra.

Conselheira do Flamengo denuncia falta de democracia no clube

Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Pior, não pudemos tirar todas as dúvidas, vários inscritos sendo impedidos de falar, de perguntar.

Gostaria de lembrar que a democracia raramente acaba de forma abrupta. Ela vai sendo minada aos poucos, vai sendo relativizada gradualmente, e os questionadores/as, contestadores/ as progressivamente silenciados/as.

Houve uma época em que gritávamos “a democracia começa pelo Flamengo”, em que lutávamos pelo direito ao voto dentro e fora da Gávea.

Mas hoje, se por um lado, as redes sociais ampliaram a fala e o grito da nossa torcida, por outro lado, existe um sentimento de sufocamento dentro do Clube, a sensação que a soberania do Conselho está sendo gradativamente cerceada.

Independentemente de ser situação ou oposição, de ser a favor ou contra o contrato da Globo, precisamos refletir e nos unirmos em prol da nossa soberania, da nossa democracia. Antes que seja tarde demais. Antes que seja triste demais. Antes do fim.

Rio de Janeiro, 09/04/2024

Marion Konczyk Kaplan

Fonte: Fla Resenha

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