Amigo de vítima da tragédia no Ninho vai jogar contra Palmeiras; escola preserva memória

O MRN está em Volta Redonda para fazer a cobertura da grande final do Brasileiro Sub-20, contra o Palmeiras, na quinta-feira (7), às 11h (Horário de Brasília), mas a lembrança ao visitar a cidade é a eterna memória de Arthur Vinícius. Vítima do incêndio no Ninho do Urubu, o jovem morou e estudou na cidade, assim como Iago, jogador que deve estar em campo no jogo contra o Palmeiras.

Por conta da decisão, o Flamengo não está liberando jogadores para dar entrevistas. Mas o MRN conseguiu uma declaração de Iago por mensagem. O camisa 3 relembra o amigo, eterno camisa 4, e revela que a mãe de Arthur, Marília Barros, teria recebido uma mensagem psicografada do filho afirmando que o que aconteceu, era para acontecer.

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“Arthur e eu éramos amigos. Senti e sinto a falta dele até hoje. Ali, como pouca gente sabe e o próprio Arthur já mandou em uma carta psicografada para a mãe dele, tinha que acontecer. Tudo que acontece nesta vida segue os caminhos de Deus”, diz Iago.

O jovem do Flamengo Sub-20 também deu emocionante declaração sobre estar jogando por dois. Iago quer conquistar uma carreira vitoriosa para ele mesmo e pelo amigo Arthur Vinícius, além da família. Os dois dividiam o sonho do futebol profissional, e Iago planeja realizar duplamente.

Tenho certeza que de onde ele estiver, está na torcida por mim. Sonho todos os dias em chegar ao profissional do Flamengo e dedicar todas as conquistas da minha carreira a ele. Jogo por mim, pela minha família e pela memória do Arthur”, finaliza em relato emotivo.

O MRN tentou contato com Marília Barros, mãe de Arthur, mas ela não está na cidade.

Escola preserva memória de Arthur Vinícius

De passagem por Volta Redonda, o MRN constatou a preservação da memória de Arthur em um mural artístico com a reprodução de uma imagem de Arthur em ação pelo Flamengo em frente a Escola Municipal Espírito Santo, onde o jovem estudou.

Ex-professora de Arthur, que dá aula de Ciências, Melina Portugal nos contou que o desenho é revitalizado com o passar dos anos para simular como Arthur estaria hoje. O cavanhaque, por exemplo, é novidade na arte do muro em frente a escola.

Além disso, Melina conta como Arthur era na escola.

“Lembro de uma alegria. Ele era muito alegre, tranquilo em sala. O sorriso dele em sala. Quando a gente falava alguma coisa, ele sempre dava um sorrisão. Lembro muito desse jeito dele na hora de falar com a gente e abordar a gente. Muito educado, um aluno respeitador, não dava problema de disciplina, nada além do normal. Um jeito leve, sempre achava ele muito alegre e tranquilo”, diz a professora.

Arthur Vinícius era popular: “Se dava bem com os colegas, sempre foi muito bem enturmado na escola em geral. Com colegas e professores”, constata.

Melina diz ainda que sofreu bastante com a notícia da morte de Arthur, que aconteceu logo após o término do Ensino Fundamental.

“Estava de licença e entrei em choque em casa. No grupo de whatsapp da escola, nosso, dos professores, quando saiu a notícia, começou a pipocar que o Arthur também estava. Colocaram a foto no grupo para lembrar quem era. Eu fiquei em choque. Sentei e chorei. Tinha sido muito recente, terminou o 9° ano no final de 2018. Tinha pouco tempo que tinha deixado a escola. A imagem dele estava muito recente”, conta.

Melina cobra justiça por Arthur e pelos Garotos do Ninho

A professora espera que o Flamengo esteja sempre preocupado em enaltecer a história dos dez meninos vitimados em seu CT. Para Melina, a forma de procurar que isso não se repita é buscando justiça criminal, encontrando os culpados pelo incêndio.

“Acho que a gente nunca pode esquecer desses meninos. Acho que eles têm que estar na memória de todo torcedor. De todos do time, do clube. O clube tem que estar sempre enaltecendo essa memória. O cuidado com a memória deles têm que ser constante. É um processo doloroso da história do Flamengo, mas não podemos esquecer dele. A justiça tem que ser feita, não só na área financeira, mas na criminal também. Nunca podemos esquecer, para que nunca se repita”, opina.

Sobre o interesse no jogo da final do Brasileiro Sub-20, Melina diz que ao mesmo tempo que se anima para acompanhar por serem jovens que tiveram contato com Arthur, se desmotiva por não conseguir esquecer que seu aluno poderia estar em campo buscando um título com a camisa do Flamengo.

“É um misto. Tem sobreviventes ali, pessoas que conviveram com ele, então é uma força que a gente dá para esses meninos. Mas fica essa sensação, a gente pensa que ele poderia estar lá, que parte deles poderiam estar nesse time. É uma sensação dúbia. Tem as duas emoções ali”, finaliza.

Mãe de Arthur Vinícius ainda passa pela escola e vê homenagem ao filho

A diretora da Escola Municipal Espírito Santo também falou com a reportagem. Cláudia Rodrigues diz que Marília Barros, mãe de Arthur, mora perto da escola e não desvia o caminho. Sempre que passa, observa a homenagem ao filho e cumprimenta as pessoas do colégio.

“A gente ainda vê a mãe dele passando aqui. Ela olha aqui, para dentro da escola. A gente sempre cumprimenta. Uma força que eu não sei de onde vem. Arthur ainda vive dentro de nós. Uma pena”, diz.

Sobre a mãe, Cláudia também diz que já a conhecia antes mesmo do nascimento do eterno camisa 4. No entanto, considera difícil o contato, já que as duas sempre acabam falando no Arthur.

“A gente ainda mantém contato com ela. A gente ainda fala. É até difícil porque não temos muito assunto, a gente lembra sempre do Arthur. Mas ela passa aqui, nos cumprimenta, não deixou morrer essa imagem. Ela não desvia o caminho, é interessante. A gente ainda tem esse contato. Já conhecia a mãe dele porque sou do bairro antes mesmo de ter o Arthur. É como se fosse um filho”, explica.

Ex-funcionários do colégio procuraram Marília

Após a tragédia, muitas pessoas quiseram mandar mensagens para Marília e pediram o contato para Cláudia.

“Tinham pessoas aposentadas aqui da escola que me pediram o telefone da mãe dele para mandar mensagem. Foram muitas mensagens. Muita demonstração de carinho”, comenta.

Tragédia no Ninho do Urubu deixou feridas abertas nos alunos da Escola Municipal Espírito Santo

Sobre os dias seguintes ao do incidente, Cláudia lembra que foi muito difícil conduzir a situação. Isso porque os alunos choravam por conta de Arthur e ninguém conseguia mais se concentrar nos estudos.

“Muitos alunos chorando, tristes. Meninos e meninas. Sem acreditar. Foi muito difícil. Não queriam estudar, estar na sala de aula. O processo foi demorado. Foi difícil, não dá para medir com palavras, mensurar o quão foi difícil (…) Quando soubemos a notícia, foi muito chocante. Ficamos em choque, a gente não acreditava. Depois vimos mesmo que tinha o nosso ex-aluno. Conheço o Arthur desde pequeno. Foi muito difícil para a escola inteira, foi um luto. Até pela forma como foi. Muito triste.”, conta a diretora.

Paixão pelo futebol de Arthur é legado

Ao falar sobre a primeira coisa que vem a cabeça ao comentar o nome de Arthur Vinícius, a diretora diz que a paixão pelo futebol é o que mais marcou o menino. O Garoto do Ninho, entretanto, não faltava com suas obrigações e sempre frequentou as aulas e estudou da maneira correta.

“Paixão pelo futebol, sempre. Não deixava de vir a escola, cumpria com suas tarefas. Um apoio imenso da mãe dele. Sempre acompanhou o Arthur. Todos os alunos tinham muito orgulho dele, todos os professores. A gente vibrava junto com ele. A gente sonhava também esse sonho dele”, finaliza.

Fonte: Mundo Rubronegro

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