A luta da Flávia Maria de Lima ou o fracasso do poder judiciário e das entidades esportivas em prol da equidade de gênero

Essa semana ficou indubitavelmente marcada pelo profundo depoimento da atleta Flávia Maria de Lima na coluna de Demetrio Vecchioli do UOL.

As Olimpíadas de Paris começam daqui há três dias e nada mais adequado e importante do que repercutir a voz de uma mulher, atleta e mãe, e da sua batalha diária em todos os aspectos da sua vida, contra o machismo estrutural.

Pois o que impacta neste depoimento, é justamente a sua desesperadora necessidade de lutar contra repetidos abusos com a conivência da sociedade, do poder judiciário e até mesmo do Governo e do COB.

O assédio no estádio ou a especificidade de um comportamento coletivo em um universo masculino 

Não é normal, não é aceitável que em pleno 2024, Flávia Maria sofra do que ela chama de “terrorismo judiciário”, por ousar competir em alto rendimento, ir para as Olimpíadas e se ver ameaçada de perder a guarda da filha. Como não é normal que ela não tenha tido amparo financeiro e esportivo depois de ter dado à luz: atletas não podem ser mães? Mães não podem ser atletas?

Os misóginos de plantão dirão com certeza que ninguém está impedindo elas. Mas e a equidade? Uma mãe atleta terá as mesmas oportunidades que um pai atleta? Nem preciso responder. A pergunta é obviamente retórica.

São os relatos, as vivências de mulheres como a Flávia Maria que nos alvejam como um soco no estômago, e que comprovam que ainda estamos muito longe de uma sociedade igualitária.

Não apenas no mundo dos esportes, mas no próprio poder judiciário, que nunca poderia permitir que uma mulher seja ameaçada, abusada, violentada na sua profissão, no seu corpo e na sua maternidade.

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No caso da Flávia Maria, a própria Justiça, que deveria amparar e proteger a atleta, acaba se tornando uma arma apontada para ela. Será que evoluímos mesmo desde do Código Civil Napoleônico de 1804, copiado no mundo inteiro, inclusive no Brasil? “A mulher e seu ventre são propriedade do homem” (“La femme et ses entrailles sont la propriété de l’homme”). 

Exagero? Será? Pois na prática é exatamente contra tal afirmação que a Flávia Maria está lutando. 220 anos depois…

Avanços tivemos sim, tanto nos esportes quanto no judiciário. Mas nós sabemos, nós sentimos diariamente que a estrada ainda é longa e entravada. Pois, no final das contas, somos todas Flávias e Marias. Somos todas lutadoras constantes, guerreiras eternas contra um sistema misógino que impede que possamos plenamente engravidar, maternar, voar, pular, nadar, jogar, correr…

…E viver.

Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72

Fonte: Mundo Rubronegro

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