Atacante veloz, bom de drible e um “terror” da geração de 2000 da base do Flamengo. A descrição até poderia ser de Vinicius Jr., mas também encaixa em Yuri César, de 24 anos, hoje no Shabab Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos. Ex-companheiro e parceiro do craque do Real Madrid desde a infância, Yuri atua no país do Oriente Médio há três anos e pode até defender a seleção local.
O jovem já tem cidadania dos Emirados, algo que parecia impensável no começo – os primeiros seis meses foram de dificuldade na adaptação. Idioma, cultura, alimentação… As dificuldades foram superadas e hoje ele se diz feliz na equipe, com quem tem contrato até 2027. “Tudo acontece como tem que acontecer”, garante.
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Yuri César, assim como parte da geração 2000, gerava expectativa na torcida flamenguista, mas ele pouco atuou pelo clube. Em 2019, brilhou com a camisa do sub-20 e vivia a expectativa de ter chances no estadual de 2020. Foram, porém, apenas quatro jogos, sem gols ou assistências, com um time de garotos.
Em março daquele ano, foi emprestado ao Fortaleza a fim de ganhar experiência na Série A do Brasileirão. No clube nordestino, se destacou e virou xodó do então técnico Rogério Ceni. Fez 39 jogos, com cinco gols e quatro assistências. Menos de um ano depois, foi alvo de uma proposta de 6 milhões de dólares (à época, R$ 32 milhões) do Shabab Al Ahli.
No fim do janeiro de 2021, já estava vendido pelo Flamengo ao clube dos Emirados. Ele aceitou, mesmo sabendo que Ceni, seu treinador no Fortaleza, estava no Rubro-Negro e poderia dar oportunidades.
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“Tudo aconteceu muito rápido para mim. Na minha ida para o Fortaleza fui muito bem, chegou essa oportunidade [do Shabab Al Ahli]. Foi difícil para mim, saí muito jovem do Brasil, ainda mais sabendo que voltaria para um grande clube que é o Flamengo”, disse, em entrevista à ESPN.
“Eu tive que pensar bastante, mas acho que o que me fez vir para cá foi o planejamento, pensando futuramente. Foi difícil no começo, mas graças a Deus deu tudo certo e hoje estou feliz aqui”, seguiu.
“Acho que podemos nos arrepender de aceitar uma oportunidade do que de não aceitar. Acredito que no fim da temporada ali o Rogério Ceni não estava tão bem. Ele tinha falado que me queria lá, que contava comigo, mas eu acabei aceitando uma oportunidade de vir para cá e foi o que aconteceu. Tinha que acontecer isso. Talvez se voltasse para o Flamengo eu não teria as mesmas oportunidades, não teria tantas chances”, concluiu.
O atacante, porém, disse que se via preparado caso tivesse tido chance de atuar mais pelo profissional do clube, ainda com Jorge Jesus.
“Eu estava bem na base, vivendo um momento bom em 2019, mas o time do Flamengo naquela época era absurdo, não tem como negar. O time estava fechado também, então eu sei que era muito difícil. Lógico que eu estava pronto se surgisse a oportunidade”, afirmou.
“Acredito que se tivesse a oportunidade de jogar eu iria bem, mas acabou não acontecendo, e o Flamengo foi o que foi em 2019 com o Jorge Jesus. Então está tudo certo”, completou.
VIDA NO ORIENTE MÉDIO
Yuri César reitera que está feliz no Shabab Al Ahli. Ele está prestes a completar 100 jogos pela equipe e diz que jogar pela seleção dos Emirados Árabes Unidos seria importante para a carreira, ainda que faltem trâmites para que isso aconteça.
“Desde que eu cheguei aqui acredito que tenha sido um plano não só deles, mas meu também. Peguei a cidadania na última temporada e tem me ajudado não contar como estrangeiro aqui no país. Acho que é um sonho estar aqui e representar a seleção dos Emirados. Vai ser muito importante para mim, importante para a minha carreira. Estou bastante feliz com isso”, contou.
“Estou bem adaptado. O começo foi bastante difícil aqui, com questão de fuso horário, de cultura, até mesmo o idioma, que é inglês e eu não sabia nada, mas hoje em dia eu estou bem. Estou muito adaptado, já sei falar, já sei muito sobre a cultura daqui, que é o que me ajudou”, seguiu.
“A questão da alimentação foi bastante difícil. A gente não conhecia, não sabíamos onde encontrar as coisas mais parecidas com o Brasil. Mas minha esposa foi se adaptando aqui também na culinária para poder aprender e conseguir ficar o mais parecido possível com o Brasil”, completou.
Na atual temporada, o ex-Flamengo levou um profissional do Brasil com quem consegue trabalhar mais a parte física. Tudo para se preparar melhor.
“Estava tendo algumas lesões, que acabaram dificultando para eu jogar e ter mais minutos. No fim da temporada passada consegui trabalhar com um amigo meu, nos últimos dois ou três meses, e vi que estava me sentindo muito bem. Então conversei com meu empresário e tive a ideia de trazer para cá para testar e ver como me sentiria. Deu tudo certo. Trouxe uma pessoa de confiança que tem me ajudado bastante. Estou bem fisicamente, e isso tem feito muita diferença para mim”, revelou.
Ele atualmente é treinado por Paulo Sousa, português que comandou o Flamengo entre janeiro e junho de 2022.
“Desde que ele chegou deixou claro que a ideia dele era fazer a gente conquistar os campeonatos. Ele não comentou nada [do Flamengo]. Mas sabemos do que aconteceu lá. Mas aqui está fazendo um grande trabalho, espero que continue para fazer uma grande temporada”, afirmou o atacante.
Outro conhecido dos brasileiros com quem teve contato no Oriente Médio é Igor Jesus, que foi seu companheiro de equipe no Shabab Al Ahli e hoje está no Botafogo, convocado até para a seleção brasileira.
“A gente se fala sempre, conversa no Instagram, WhatsApp. O Igor sempre foi um moleque muito gente boa, merece tudo que está acontecendo com ele. É trabalhador, respeitoso, trabalha no tempo dele”, disse Yuri César.
“Aqui me ajudou bastante. Quando eu cheguei, ele já estava. Me deu bastante orientação de como o treinador árabe na época queria, o que gostava, foi um moleque que me ajudou bastante e merece tudo que está vivendo”, finalizou.
AMIZADE COM VINICIUS JR.
Dos tempos de Flamengo, Yuri César ainda guarda com carinho a alegria dos colegas de time e as resenhas. O parceiro que mais brilha hoje em dia é Vinicius Jr., com quem ainda mantém contato.
“Desde sempre a gente sabia [do potencial dele]. Desde que nos conhecemos, ali em 2011, 2012, que a gente começou a jogar no campo juntos. Eu sabia, via que ele era muito diferente. Sempre foi diferente, desde novo”, revelou.
“Eu sei do que garoto que ele é, do homem que se tornou. Trabalhou bastante, sofreu muito. Estar vivendo tudo isso hoje é muito gratificante para a gente que acompanhou tudo. Ficamos felizes por ele”, seguiu.
“Ele sempre acreditou nele mesmo. Tanto que tomou muita porrada quando chegou na Espanha, muitas pessoas criticaram quando ele foi vendido ao Real Madrid. Mas ele sabia do potencial. A gente vê hoje em dia ele todo confiante, sabemos o porquê. É porque ele trabalha, trabalhou em silêncio, sofreu muito, e estar vivendo isso… Ele merece muito”, completou.
Yuri tem a imagem do Vini “brincalhão”, que se destacou muito novo e até fortaleceu os amigos quando começou a ter patrocínio de material esportivo, ainda que eles tenham, na resenha, o deixado irritado.
“Quando ele assinou contrato com a Nike, ele recebia bastante coisa. Foi passando um tempo, ele chamava a gente para jogar videogame na casa dele e acabava que a gente ia para lá e voltava com uns dois tênis, roupas…”, contou o atleta do Shabab Al Ahli.
“Teve uma época que ele parou de chamar a gente e ficamos tristes. Eu morava no CT na ocasião e chegava cheio de roupas da Nike, tênis. Ele ficou p*** com a gente e não queria mais levar para a casa dele”, brincou.
“O que ele mostra hoje em dia é o que ele sempre foi. Sempre foi brincalhão, sempre foi de zoar todo mundo, sempre foi alegre. A gente fica feliz por ele estar onde está e manter contato também. Fico muito feliz por isso”, concluiu.
A parceria com Vini Jr. é tão grande que Yuri César sempre recebeu conselhos da mãe do craque do Real Madrid.
“A mãe dele é mãezona. Todo mundo que está perto ali, que conhece, sabe. A família dele toda. Mas a mãe dele abraça, sempre me deu muitos conselhos para eu ajudar minha mãe, ajudar minha família. A gente ter contato até hoje é muito gratificante”, finalizou.
Fonte: ESPN