O diretor do documentário sobre a tragédia do Ninho do Urubu que está disponível desde o último dia 14 na Netflix participou nesta quarta-feira do programa Sem Censura, da TV Brasil. Pedro Asbeg disse que espera que seu trabalho ajude a punir os responsáveis pelo incêndio que matou dez adolescentes em 2019 e segue sem nenhum condenado após cinco anos.

“A gente entendeu que o fato de o processo estar aberto também era a chance de falar sobre uma coisa que causasse impacto. E se nosso trabalho consegue pressionar para que as pessoas sejam responsabilizadas? Por mais difícil, mais doloroso que fosse, a gente entendeu que era importante falar sobre essa tragédia”, disse Asbeg.

O diretor afirmou que considera que duas informações trazidas pelo documentário podem ajudar a apontar os culpados: o fato de o clube ter apresentado às autoridades o projeto do Ninho com a área dos alojamentos constando como estacionamento e a troca de e-mails por funcionários do clube meses antes da tragédia revelando que o Flamengo estava ciente de problemas nas instalações elétricas.

“É óbvio que existem responsáveis. É óbvio que a gente precisa olhar para a instituição e falar: o Flamengo precisa ser punido destas formas. Mas pessoas precisam ser punidas de outras maneiras”, afirmou.

Diretor de documentário duvida que dirigentes pusessem seus filhos para dormir como vítimas do Ninho

Asbeg afirmou duvidar que algum dirigente do Flamengo colocasse os seus filhos para dormir em contêineres da mesma forma que as vítimas do incêndio no Ninho.

“Os clubes de uma maneira geral e o Flamengo em particular olham muito para esses meninos como mercadorias. Então quanto menor for o gasto com a manutenção desses meninos maior é o lucro que eu vou ter na hora de vendê-los. É uma mobilização desde muito cedo para que aqueles meninos cheguem onde chegaram. E eles estavam vivendo o sonho, jogar no Flamengo, quem não quer? E aquele sonho foi interrompido por uma negligência absurda. Você olha e pensa, será que algum dirigente do Flamengo poria seu filho para morar naquele alojamento dentro de um contêiner?”, questionou.

Torcedor do Flamengo e autor de outros documentários sobre o clube, Asbeg afirmou que hesitou em aceitar o trabalho, mas acabou percebendo que tinha uma missão de ajudar a esclarecer a tragédia.

“Quando esse trabalho apareceu, o meu lado torcedor passional ficou dividido, entendendo o tamanho desse trabalho, a responsabilidade. Era tratar de uma coisa que me dizia respeito. Uma coisa que me ajudou de alguma forma foi entender que o Flamengo é uma coisa, e quem o dirige é outra. O Flamengo como instituição tem responsabilidade. No caso dos acordos de indenização, é o clube quem precisa arcar. Mas no caso de entender quem foi responsável, são pessoas, são seres humanos. Então me tranquilizou de alguma forma. Então isso de alguma forma é uma missão. Eu como torcedor do Flamengo preciso ir atrás. Porque tem muita gente da torcida que quer justiça. Eu diria que a maior parte”, afirmou.

Flamengo estendeu luto com maneira como lidou com famílias, diz Asbeg

Asbeg também criticou o Flamengo pela forma com a qual lidou com as famílias após a tragédia. Esse é um ponto central do documentário sobre o Ninho, que mostra as famílias muito magoadas pelas formas como foram tratadas.

“A gente fala muito como a Marielle [Franco] morreu várias vezes, não foi só na hora em que ela foi assassinada. No caso dos meninos do Ninho, das famílias que perderam seus filhos, de alguma forma isso foi estendido porque houve um processo de negociação por danos morais que o Flamengo precisou fazer, um acordo feito com cada uma das famílias que também estendeu esse processo. Não era só o luto da perda. Era também o processo de negociação com cada uma daquelas famílias, quanto vale a vida do seu filho. É muito doloroso.”, disse.

O diretor disse que as famílias esperam justiça pelos seus filhos.

“O pagamento das indenizações é parte desse processo, mas ele não encerra esse processo. E fica muito claro quando eu converso com os familiares que perderam seus filhos. Eles todos querem que essa história vá até o final. Porque os filhos já não vão voltar, e essa dor não vai ser sanada, recuperada, por conta de uma indenização, por mais que isso seja obrigatório A gente está falando de cinco anos.”

Fonte: Mundo Rubronegro

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