Os titulares do Flamengo seguem sem conhecer o desgosto de buscar bolas no fundo de seu próprio barbante pelo Campeonato Carioca de 2024. Isso por si só já seria motivo para comemorações, tendo em vista que é apenas um início de temporada e ao olhar por cima dos muros da Gávea, podem ser vistos os números e jogos ruins daqueles que serão os rivais diretos nas competições que realmente interessam na temporada.

Sim, há vida fora do Flamengo e ela não me parece nada fácil. Enquanto Palmeiras e Atlético Mineiro perdem para seus rivais locais e não deixam de sofrer contra equipes pequenas, outros postulantes também passam longe de empolgar!

Dentre os grandes favoritos da temporada, quem mais deveria empolgar e vender agendas positivas é o Flamengo. Um clube que se reforçou bem, ainda vai se reforçar mais e que nem sequer precisou lançar mão de suas novas joias para começar a deslanchar na temporada. Mas o Flamengo se orgulha de ter sobre si, grande exigência. Pois só cobra quem confia e sabe que há de onde tirar algo a mais.

E este “algo a mais”, ainda que de forma singela, se apresentou novamente em Aracaju, onde a linda nação local pode comemorar o segundo 3 a 0 seguido dos comandados de Tite.

3 a 0 construído de forma simbólica e eu explico o motivo!

O primeiro gol foi fruto de um contra-ataque. Fundamento que parece ter saído de férias em outras temporadas do Flamengo. Desde Jorge Jesus, o Flamengo não tem equipes de fato preparadas para contra-atacar bem seus adversários. Os outros trabalhos vitoriosos na era pós-JJ não eram entusiastas neste fundamento. Enquanto Rogério Ceni praticamente proibia seus comandados de contra-atacar, Dorival os impunha um estilo de cadência e troca lenta de passes. Estilos que faziam sentido para a época, assim como faz sentido voltar a ter o contragolpe em um elenco reformulado como é o time de 2024.

O segundo gol, nasce em uma das qualidades mais admiradas pelo torcedor rubro-negro. A capacidade de executar perde-pressiona. Aliás o Flamengo produziu ao menos uma dezena de oportunidades de gol e metade delas nasceu em ótimas pressões de seus meias e atacantes logo após o time perder a bola. Após ótima subida de Igor Jesus para combater, Luiz Araújo foi suficientemente generoso para dar à Pedro, mesmo presente que dera a Gabigol dias atrás.

Já o terceiro, veio da forma mais trabalhada pela comissão técnica até aqui: escanteios ofensivos!

E foi o terceiro gol oriundo de cantos ofensivos em seis jogos dos titulares no estadual. Ótima média de 0,5 gol por jogo.

A estatística em si já demonstra que este fundamento vai em bom caminho, mas como diria Tite, “o campo fala” ainda mais. Há um movimento bastante coordenado de Léo Pereira deixando o centro da pequena área para atacar a primeira trave e a partir disso a jogada pode ser concluída de diferentes maneiras. Pode ser diretamente finalizada por ele, como no primeiro gol da temporada, diante do Audax (figura 1) e pode também servir para abrir espaços na pequena área para finalização de Fabricio Bruno, como em lance diante do Vasco quando o camisa 15 finalizou para fora (figura 2), ou no gol diante do Bangu, assinalado por Pedro no rebote de Fabricio, que novamente conseguiu finalizar, mas agora acertou o goleiro adversário, que rebateu para o camisa 9 conferir (figura 3).

Se isso não é resultado de treino, repetição e coordenação, nada mais pode ser!

Figura 1 – Leo Pereira deixa centro da pequena área e finaliza na primeira trave para marcar diante do Audax

Figura 2 – Leo Pereira repete o movimento enquanto Fabricio ataca a pequena área. O mesmo movimento gera uma vantagem diferente e naquele momento não sai o gol.

Figura 3 – Léo repete o mesmo movimento e Fabrício ataca espaço deixado pelo companheiro de zaga, como fez diante do Vasco. Desta vez, o ensaio terminou em gol.

Assim se constrói uma equipe de diversos protagonistas. Uma coletividade vencedora, que começa a ganhar a cara de seu comandante, que com seu trabalho gera jogadas diferentes, decididas por jogadores diferentes.

O Flamengo de Léo Pereira, também é o Flamengo de Pedro, que tem Luiz Araújo, que tem Arrascaeta, que tem Gerson, que terá cada vez mais De La Cruz, que terá Viña e talvez até Léo Ortiz.

Um Flamengo coletivamente forte. Defensivamente forte. “Mentalmente forte”.

Com bola rolando. Com bola parada. E também sem a bola… 

Victor Nicolau, o “Falso Nove”, é Analista de Desempenho certificado e formado pela CBF e outras instituições de ensino internacionais. Engenheiro Civil de formação, atua como executivo de compras há 10 anos. Siga Falso Nove no Twitter e inscreva-se em seu canal no YouTube.

Fonte: Mundo Rubronegro

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